sábado, fevereiro 19, 2005

Saudosismo

Era muito mais giro. Havia carros com uns funís espetados no tecto, tipo carros das rifas prós ceguinhos, a tocar os hinos de campanha dos seus partidos e exibindo as suas bandeiras. A APU era muito melhor do que a CDU e a AD muito melhor do que acordos pré-eleitorais para eventuais vitórias nas urnas. Não havia "choques" e os votos não eram úteis. A UDP não se disfarçava de modernaça por trás do Bloco. Tinha um símbolo horroroso e um candidato contratado nos países nórdicos com um nome tirado do "Space Odity" do David Bowie, só que aportuguesado. Havia o POUS, o PCP(R), o PSR, a ASDI, a UEDS, o PDC, a FRS e o Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses - Movimento Revolucionário do Proletariado Português, que enchia as paredes do Técnico de grandes pinturas de cores garridas. Houve, já numa fase decadente, o PRD que tinha por líder o político mais anti-estrela, o agrónomo Hermínio Martinho. O Sá Carneiro tinha uma penca incrível e aparecia com uma senhora loira que vim a saber que não era bem a mulher dele. Era mas não era. Os tempos de antena eram vistos por toda a família entre o telejornal e a telenovela. O Soares ganhava eleições dizendo "só vos posso prometer austeridade". Tínhamos que "apertar o cinto" para conseguirmos "entrar na CEE". O arq. Gonçalo Ribeiro Teles fazia parte do governo e o Cavaco era ministro das finanças. O Balsemão era político. O Eduardo Prado Coelho era comuna e os comunas eram uns bandidos, liderados por um demónio feito homem chamado Cunhal. Havia a mania dos autocolantes.