quinta-feira, maio 05, 2005

Anos 80

Este post é dedicado a quem viu a nascer as primeiras borbulhas nos anos 80, em Lisboa. Hoje há um revival, é certo, mas um revival é um revival e só recicla as coisas boas. Acontece que os álbuns de fotografias com rolinhos de fita-cola colados atrás, não nos deixam esquecer o lado negro da década punk (que na capital portuguesa foi mais beta do que freak):
Sabores que guardaremos para sempre, como o de pizang-ambon com sumo de laranja, ãh? Como é que alguém bebe pizang-ambon com sumo de laranja numa boite forrada a veludos que se chama «Banana Power» (é pornográfico, não?), a ouvir «Afinal qual é a tua, coração de papelão….» às 7 da manhã, embrulhada como um rebuçado num vestido de tafetá aos quadradinhos depois de um jantar de vinho branco, bifinhos com natas e cogumelos, mousse de caramelo e Irish Coffe??
Músicas que não esqueceremos - embaladas pelo Oceano Pacífico, crianças (de livre vontade, note-se) de 13/14 anos dançavam slows das dez à meia-noite, ao som de xaropadas do tipo «Nights in white satin, never reaching the end, letters I’ve written….» e «The lady in red, is dancing with me, cheek to cheek (não traduzam…)», pior: «Words, téunéunéum, don’t come easy, to me….»
Toilettes masculinas que se eternizaram (é sabido que os homens não renovam o guarda-roupa, e temos ainda muitos exemplares anos 80 no séc. XXI), sapatos de vela, camisolas de rugby do CDUL, casacos de penas azuis turquesa. É graças à permanência nos hábitos, que hoje conseguimos topar um Tuga em qualquer parte do mundo – o sapato (ou o calçado, como diria um amigo meu que trabalhou no Continente e ainda chama perecíveis às bolachas, leite, etc.) não engana. Ainda outro dia reconheci um sobrevivente desses tempos (eu que sou míope) em Búzios, porque vi ao longe um sapatito de vela a caminhar na areia, por baixo de um fato de banho aos quadradinhos azuis e verdes.
Hair-Style dos ícones pop e do nacional cançonetismo – Limahal (imitado pelos mais arrojados, que imaginem, não queriam ser betos – uma minoria, evidentemente), Marco Paulo (era permanente?), George Michael na fase Wham (pioneiro das madeixas loiras tipo Cinha Jardim). Posso confessar-vos que o meu sonho (não realizado) era ter uma permanente, uma sweat-shirt do Snoopy em cima da casota e uns sapatos de corda verde-alface de saltos altos.